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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Buceta + um conto


E por falar em poesia.....
¨¨
Saído de um desses prédios comerciais onde eu fora entregar alguns contratos importantes, sento-me numa das mesas dum barzinho da moda da Juscelino Kubitschek, Olho para o relógio; quase 18 horas dum horário estúpido de verão. Olho também para o cardápio e dou por falta da relação de bebidas. Estalo os dedos e chamo o garçom:

-Meu rapaz, você pode me servir uma dose da Sputnik.

-Como? Espu... o quê senhor? - Ele arregala os olhos

-Sputnik! É uma vodka, nacional, muito boa por sinal - Respondo-lhe pacienciosamente. Evidente, em não tendo ele não é obrigado saber que vodka é essa - conclui

-Não, não senhor. Não temos e nunca ouvi falar! – Ele confirma - Mas. falando em vodka, temos a polonesa Wiborowa, a russa Stolichnaya....

-Humm... e quanto sai a dose? - Indago com um olhar atrelado ao desinteressante cardápio. Talvez o desinteresse tenha se dado ao bater o olho na secção de lanches - X Burguer á moda do Rei - 25 reais.

-Quarenta e dois reais, a dose, senhor! - Ele diz com um sorriso encabulado - Claro, a essa altura ele vê pelos meus trajes e horrível aparência da barba de mais de três dias e percebe que ali que ali não é a minha praia.

-Hã? - Eu me assusto.

-Bem senhor.... em promoção temos a tônica da Antártica. Dois reais e cinqüenta! Sabe como é, né? Esses jovens não querem saber de água tônica. Pra falar a verdade acredito que nem saibam que gosto tenha – Completa com ares de quem sabe a propriedade do que fala.

-Seu nome? - Eu lhe pergunto. Eu tinha gostado dele. Ele também viera de baixo, eu podia perceber. E os que vêm de baixo sabem como é duro subir.

-Genivaldo, senhor! - Responde dirigindo-me a mão em cumprimento.

-Prazer! Zambini – Retribuo a apresentação e peço duas garrafinhas de 290 ml pra me refrescar do calor que rachara mamona naquele dia embolorado.

Talvez Genivaldo fosse um sábio ou uma Madre Teresa de Calcutá, afinal poderia ter me indicado o boteco mais próximo e que fugisse de um desses corredores da ostentação.



Portanto, com a sua simpatia e lábia induziu-me àquelas duas garrafetas, pressentindo talvez que eu estivesse propício á embebedar-me se encontrasse preços compatíveis com o poder aquisitivo do meu bolso ali pelos bares da redondeza.
Colocadas em cima da mesa, despejei no copo alto e dei duas fortes talagadas estalando a língua no céu da boca. Ele sorriu.
Atrás de mim numa mesa dois garotos e uma garota riam alto. Olhei para eles e eles eram bem bonitos, roupas caras, de grife, provavelmente carangas importadas e coisas e tal. Continuo bebendo meu refrigerante enquanto observo-os pelos cantos dos olhos. Eles continuam rindo, rindo muito e nem sei de quê. Repentinamente os risos vão cessando e um deles consulta um laptop colocado à sua frente. Achado o que procurava fazem silêncio. Novamente parece consultar o seu computador e em menos de minuto solta a voz na declamação de um poema; seu poema.

“Que pensaram as araras,
divisando ao longe as naus
naquele dia de abril?”

Era uma poesia de época e que retratava um Brasil descoberto, as aflições, os transtornos que esse descobrimento causou ao povo indígena, à flora e à fauna.
De onde eu estava eu pude escutá-lo com toda clareza; o poema seguia linhas descompromissadas com o sentimento do ser ou de suas inexploradas profundezas.
E o seu poema era lido sem interpretação, raso, um desses que não se envolvem em demasia, que não gostam de falar de da dor, do amor e nem de nada que demande alguma carga emotiva. Ao terminar eu pude ouvir dos seus amigos um “Oh, que bárbaro” e “Putz, cara! Que bacana!"

Eu sorrio. De fato eu não gostara do poema com um todo. Houvera sim uma ou outra parte interessante, desses que insistem em habitar a superfície num quanto mais raso melhor, inversamente, óbvio, ao que acredito. Hoje mais que ontem me parece que o importante é ser mergulhador dos seus próprios oceanos e de lá quando submergir trazer consigo as dores, esperanças e as desilusões que podem estar escondidas entre as pedras mais rasteiras.


O tema? Tanto faz! Não me parece importante desde que traga algo ao chegar na superfície.

Pago os refrigerantes, aperto a mão de Genivaldo e sigo meu caminho ainda pensando naqueles três. Sorrio novamente ao olhar para trás. Dessa vez o sorriso é cúmplice; Naquela idade eu também fora um contestador do meu tempo. Gostava das minhas namoradas. Mas, gostava-as fundamentalmente dentro de quatro paredes, sem excessiva exposição. Amei algumas, mas não admitia demonstrar o meu afeto publicamente. Palavras meladas que a meu ver eram coisas de babacas, nem pensar! Claro, eu não queria pagar o mico já que seriam interpretadas por meus amigos como meras dramatizações, e bem ao estilo mexicano.
Portanto foi necessário um mar de existência para conseguir fragilizar-me sensibilizar-me

Antes de dobrar a esquina volto e olho para trás. Ainda de onde eu estava era possível ver-lhes as roupas. O rapaz de camisa amarela que declamara parecia estar compenetrado com seu note, provavelmente à caça de outra penca de poemas no HD.
A garota loira e de pernas bonitas numa cor lindamente bronzeada atirava os seus lindos cabelos, ora para o lado, ora para trás, enquanto o outro, da direita, de camisa vermelha, não percebia que aquele lance dos cabelos era para ele. Eu sorri. Provavelmente devem ter se esquecido de alertá-lo – Pensei comigo - A mim alertaram assim que entrei pelos 14 ou 15: Filho, toda mulher que insistentemente joga os cabelos para trás enquanto conversa com você, é porque está muito a fim de conhecê-lo mais intimamente – Disse meu pai –
Houve muitas ocasiões que meu pai errou, pois ele nunca fora um sábio, mas, nesta?
-Te devo essa, velho! – Nunca falhou uma!


Copirraiti 2010NOV
Véio China©

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