Zona
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Os dedos tamborilam na mesa de fórmica. O vermelho do esmalte não encontra contraste com o da boca quando a mulher leva o cigarro aos lábios. Ela traga profundamente. A fumaça sobe em espiral, até o teto de madeira. Algumas pessoas estão paradas no balcão, esperando o lanche engordurado. O menino tem algumas moedas e uma nota de dois reais na mão. O homem, com o casaco de lã azul, mostra o bigode preto e os cabelos ralos e grisalhos. Ele está olhando para a rua, os olhos parados. Uma senhora de vestido cinzento confere a hora, no relógio de pulso, pela terceira vez. Neste momento, entra um moço de cabelos longos e negros e a mulher de unhas vermelhas levanta-se da cadeira. A saia curta está bem acima dos joelhos. A blusa de malha transparente revela seios fartos presos por um sutiã negro. O estômago proeminente quase sai pelos botões. A mulher se aproxima do moço e sorri. Sorriso de dentes amarelos. O moço olha para a mulher e não sorri. Ela faz um gesto com a mão. Mas ele baixa a cabeça. A mulher, então, ajeita a corrente dourada da bolsa de oncinha e sai. Antes de atravessar a rua, atira o cigarro na calçada de cimento cru.
A.Yunes
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
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